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O Monte Cristo é um bairro na parte continental de Florianópolis que abriga nove comunidades. Tem vinte mil habitantes segundo o CEDEP, o Centro de Educação e Evangelização Popular, ONG que atua no bairro. No mapa racial do Brasil, organizado pelo jornal Nexo, é um foco de negritude em uma das capitais mais segregadas do país. Lá, a renda média mensal é de R$616,73, três vezes menor do que o valor para Florianópolis toda: R$1731,91.

O Projeto Fênix faz parte do CEDEP, com o objetivo de trabalhar com crianças e adolescentes em vulnerabilidade econômica, e evitar que eles se envolvam com o tráfico de drogas. As aulas acontecem tanto nas ruas quanto em praças públicas. Na foto, os alunos e o professor chegam na Praça do Canto, revitalizada em 2008.

Andrei de Lima Souza, 16, está no projeto há um ano. Antes disso, não tinha contato nenhum com o skate, mas já conhecia o CEDEP, e se envolveu mais a partir quando começou a participar do Fênix. "Se não é o projeto eu fico na rua. Em vez de fica na rua tô aqui, andando de skate".

O projeto começou em outubro de 2013, com objetivo de resgatar estudantes que evadiram a escola e que não se "enquadram" nos projetos formais. Claudio de Souza Sonhador, professor do projeto, é carioca, de 31 anos, e se mudou pra Florianópolis. Hoje, Claudio faz Educação Física na Univali - Campus Biguaçu. "A gente precisa mostrar pra eles que existem alternativas". Aqui, ele orienta um aluno a fotografar a aula.

Kauã Antunes, 11, participa do Fênix há um ano.

Uma parte importante das aulas é a fotografia e filmagem. Os alunos usam câmeras do Centro para produzir material das aulas, que depois é utilizado para divulgação do projeto e para conseguir patrocínio e doações. O Projeto Fênix foi premiado pelo Instituto Guga Kuerten no ano passado com o prêmio anual da fundação, que reconhece projetos sociais de grande importância.

Os skates utilizados nas aulas vem de três fontes: ou foram comprados pelo CEDEP, ou foram doados por pessoas fisicas, ou são dos próprios alunos. Para financiar o projeto, o CEDEP conta com doações, editais públicos e os patrocínios com lojas especializadas.

Emanoel Bernardo, 14, já havia participado do projeto antes, mas ficou um tempo parado. "O projeto é legal, a gente vê a galera se afastando do mundo das drogas, vindo pra cá, e isso é legal. Incentiva as pessoas a fazer alguma coisa". De volta há quatro meses, ele pretende seguir carreira como skatista. "Comecei a conhecer os cara. Luan de Oliveira, Cesar Gordo, Mineirinho", conta, citando skatistas profissionais. O skate que usa na aula foi comprado por ele próprio: "Tive a oportunidade de vender meu videogame, e comprar um skate muito melhor, que é o que eu tenho agora". Sobre a motivação para trabalhar com skate, Emanoel conta: "É algo diferente de tudo. Agora vou continuar até ser o melhor dos melhores".

Depois dos exercícios, os alunos se reúnem para comer os sanduíches que vem prontos do CEDEP, beber água e conversar sobre a aula, o skate, ou ouvir poesia, como na foto. A concentração é difícil, mas é uma parte da aula que o professor não abre mão.

Para o próximo semestre, Claudio pretende pôr em prática a ideia de uma turma só de meninas. "As aulas são pra todo mundo, mas algumas meninas já falaram que não vão por causa dos meninos. A gente viu que existe uma demanda, e vamos montar uma turma pra tentar puxar o skate feminino, que tá em falta nesses três anos de projeto".

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